Esses fenômenos são conhecidos por telepatia
(transmissões de pensamentos), clarividência (visões do que ocorre à distância,
sem acesso por meio físico conhecido), precognição (conhecimento de fatos
futuros sem o uso da inferência racional), poltergeist (conjunto de fenômenos
que sugere que determinado lugar esteja “mal assombrado”), etc. Podem ser
conhecidos por sinônimos; podem estar vinculados a determinadas práticas
rituais; podem estar inscritos nos mais diversos contextos doutrinários. Mas o
fato, inconteste, é que ocorrem nas mais variadas regiões do planeta e para
eles não existem respostas científicas.
A Parapsicologia, a princípio, estuda todos estes
fenômenos. Contudo, enquanto disciplina científica, a Parapsicologia enfrentou
uma série de dificuldades. A primeira delas foi provar a existência de seu
objeto de estudo. Até 1930, as pesquisas científicas concentravam-se somente no
aspecto qualitativo, portanto impossíveis de serem reproduzidas. O Prof. Dr.
Joseph Banks Rhine abordou a fenomenologia parapsicológica em experimentos
quantitativos, o que facilitou o reconhecimento, por parte da comunidade
científica, de que havia um novo campo a ser estudado. Ou seja, talvez a
Parapsicologia tenha sido a única ciência obrigada a provar que seu objeto de
estudo é real.
As pesquisas de Rhine ocorreram na Universidade de Duke,
Carolina do Norte, EUA . Foram uns novos marcos na história do conhecimento
científicos porque trouxeram – definitivamente – para o âmbito da ciência
fenômenos que, antes, eram de abordagem exclusiva das religiões, do ocultismo
e, até mesmo, de experiências pretensamente científicas mas que pecavam pela
metodologia. Dessa forma temos que, muitos fenômenos citados pelas diversas
religiões ou mesmo observados apenas qualitativamente, ainda não estejam
efetivamente comprovados, tais como, levitação (capacidade dos corpos flutuarem
anulando a força gravitacional) e a materialização de objetos (aparecimento de
objetos em locais onde, originalmente, não estavam – sem a utilização de meios
físicos conhecidos). Outros fenômenos são pesquisados reduzindo-se o ritualismo
da sua manifestação, abordando-se-lhes o que à ciência interessa, como no caso
das diversas mancias (Quiromancia – leitura das mãos;
Cartomancia – leitura de cartas, etc.) onde a capacidade de prever o futuro
pode estar ligada a diversos condicionamentos mas que não é – necessariamente –
inerente a estes. Pesquisa-se, então, a capacidade paranormal do quiromante e
não os mistérios da Quiromancia; é importante a suposta sensibilidade do
cartomante e não as inúmeras disposições aleatórias que as cartas possam ocupar
numa sessão de Cartomancia. Nesse mesmo contexto são direcionadas as pesquisas
onde os fenômenos ocorrem nas religiões, seitas ou rituais de caráter
ocultista. São respeitadas, mas não interessam, a doutrina, a ideologia e a
mitologia. Interessam – sim – o fenômeno e as pessoas.
A Parapsicologia é uma ciência humana. Trata de assuntos
também abordados pelas religiões e pela magia (entenda-se por correntes
ocultistas). Contudo, o parapsicólogo, o religioso e o mago partem de premissas diferentes.
Para o parapsicólogo todo fenômeno se origina no homem. O homem é o centro e a
razão de toda e qualquer manifestação paranormal. Para o religioso e o mago o
homem é apenas um acidente na ocorrência de fatos universais. Alfred Still (
Nas Fronteiras da Ciência e da Parapsicologia, São Paulo:Ibrasa,1968.2ed.p.33)
discutindo as diferenças entre o mago e o religioso, afirma com propriedade:
“Podiam-se considerar a magia e a religião primitivas ramos da mesma árvore; a
religião, porém, procurou propiciar e, conseguiu, concessões das forças ocultas
sobre as quais o homem não tem controle algum, ao passo que a magia aspira
controlar as forças e os indefesos”. Portanto, enquanto a religião adora forças
superiores e a elas pede concessões, a magia procura dominar essas forças. Em
ambas, o homem é, apenas, parte de um contexto mais abrangente. Já para a
Parapsicologia o homem é o epicentro do fenômeno, ainda que as causas disso
sejam desconhecidas.
1.2. DEFINIÇÃO DE PARAPSICOLOGIA.
Vários autores definiram Parapsicologia. Robert Amadou
propôs duas definições, a ampla e a estrita:
“No
sentido amplo, a parapsicologia é a disciplina que se esforça em
explicar os fenômenos aparentemente aberrantes perante a ciência, seja por
causa da fraude, seja por causa da ilusão ou do exercício de uma função
psicológica ‘clássica’ ou nova.
No
sentido estrito, a parapsicologia é a colocação em realce e o estudo
experimental das funções psíquicas que ainda não estão incorporadas ao sistema
da psicologia científica, com a finalidade de integrá-las a este sistema, que
ficará então ampliado e completo.” (Parapsicologia. São Paulo:Mestre
Jou, 1965.p.55).
A desvantagem nas definições de Amadou é que as mesmas
limitam todo o estudo parapsicológico a áreas a serem incorporadas à
Psicologia. Como não se conhecem as causas dos fenômenos parapsicológicos estas
definições podem não se tornar verdadeiras, no futuro, quando avançarem as
pesquisas.
Já René Sudre define Parapsicologia como “…a ciência que
tem por objeto os fenômenos físicos ou psicológicos devidos a forças que
parecem inteligentes ou a faculdades desconhecidas do espírito.”(Tratado de
Parapsicologia. 2ed.Rio de Janeiro:Zahar, 1976.p.65). A definição de Sudre,
embora mais abrangente, deixa margens a algo independente do homem. “Forças que
parecem inteligentes” podem sugerir alguma concepção espírita. “Faculdades
desconhecidas do espírito” seria mais condizente com o espírito científico, se
entendermos como ‘espírito’ a parte extrafísica do homem, ou seja, seu psiquismo.
Ainda assim, limitaríamos o campo de estudos. E se os fenômenos
parapsicológicos se derem por influência de energias não psíquicas? Como
podemos observar, as definições podem comprometer a imparcialidade científica.
João Teixeira de Paula define Parapsicologia como “… uma
disciplina científica que investiga os fenômenos que, existindo na Natureza,
são inabituais na contingência humana, quer sob o ponto de vista qualitativo,
quer sob o ponto de vista quantitativo.”(Dicionário de Parapsicologia, Metapsíquica
e Espiritismo, vol.III. São Paulo:BCB, 1970,p.8). Esta definição não restringe
a área de estudo e é própria do estágio em que se encontra a Ciência
Parapsicológica: constata-se apenas a existência dos fenômenos, mas não se
conhecem as causas. Contudo a abrangência da definição pode não ser compatível
com o espírito de exatidão de uma ciência.
Outras definições podem ser encontradas nos diferentes
autores e de forma geral oscilam entre o comprometimento com alguma ideologia
ou com uma abrangência despropositada.
A definição que utilizaremos neste curso é a estabelecida
pelo trabalho de Rhine: Parapsicologia é o estudo da capacidade que os
seres possuem de transmitir e receber informações independentemente
dos sentidos habituais (audição, visão, paladar, olfato e tato).
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